Este é um estudo publicado no ASCO 2021, com a participação do médico oncologista clínico e pesquisador Dr. Luis Eduardo Werneck, presidente da Oncológica do Brasil sobre o impacto da pandemia no tratamento de tumores cerebrais. A nova pandemia da doença coronavírus 2019 (COVID-19) interrompeu os sistemas de saúde em todo o mundo. No Brasil, a doença teve seu primeiro caso na cidade de São Paulo, sendo, portanto, ponto de partida e epicentro da doença na América Latina. As características neurológicas são atualmente bem reconhecidas no COVID-19, indicando a natureza neurotrópica do vírus e incluem anosmia, mialgia, miosite, encefalite, meningite, doença cerebrovascular, síndrome de Guillain-Barré e mielite pós-infecciosa. Os tumores do SNC, embora relativamente raros (> 2% de todos os cânceres), são uma fonte relevante de morbi-mortalidade relacionada ao câncer em todo o mundo. Embora estudos tenham relatado maior gravidade de COVID-19 em pacientes com câncer, as consequências da pandemia nos cuidados de saúde para tumores do SNC permanecem inconclusivas e provavelmente serão sentidas por décadas.
Métodos: Este é um estudo transversal dos HAs por tumores do SNC na cidade de São Paulo comparando o período do surto (janeiro a junho de 2020) e um período pré-pandêmico correspondente dos anos 2017-2019. Os dados foram obtidos na base de dados do Sistema Único de Saúde - Sistema de Informações Hospitalares conforme capítulo II da Classificação Internacional de Doenças - 10ª revisão (CID-10). A regressão linear foi usada para analisar a relação entre a incidência de HAs e o tempo (meses).
Resultados:Uma redução significativa em HAs devido a tumores do SNC foi observada durante o período do surto (janeiro-junho de 2020). Neoplasia benigna do cérebro e outras partes do SNC (-2, CI -2 a -1) e neoplasia maligna do cérebro (-5, CI -7 a -3) mostraram ser notavelmente afetados (ver tabela). Até onde sabemos, este é o primeiro relato científico de redução significativa de HAs devido a tumores do SNC durante a era COVID-19.
Conclusões:Nossos achados parecem estar associados ao atraso no diagnóstico oncológico e no atendimento aos pacientes com tumor do SNC durante o bloqueio e colapso do sistema de saúde. Um efeito rebote de busca de ajuda, bem como complicações mais graves, podem estar presentes na pós-pandemia. Mais estudos são necessários para avaliar o impacto da pandemia em andamento nas neoplasias do SNC, a fim de corroborar estrategicamente as ações de saúde pública para as implicações de curto e longo prazo da pandemia de COVID-19.